Censura do mercado

  Auto e hétero censura

A discussão em torno dos limites do humor é já uma temática que cansa os humoristas. Na sua grande maioria, os profissionais indicam um humor fora de qualquer norma.

Um destes casos é a humorista Joana Marques. Para esta não existem quaisquer limites a não ser o "limite intrínseco", que se baseia no bom senso de cada um. "Eu faço as piadas às quais também acharia piada. Portanto, se há tema mais escatológico, não me interessa muito, eu não vou usá-los porque como espetadora também não gosto", refere.

Luís Vilhena, arquiteto, político e sobrinho de José Vilhena, intitulado como o maior humorista português do século XX, defende igualmente esta ideia, "somos nós próprios que nos autocensuramos". Acrescenta que isto acontece "ou porque temos receio de ser observados pelo resto da sociedade, ou porque temos receio de perder o emprego." 

Público
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O sobrinho de José Vilhena explica que o seu tio "fazia um pouco de crítica dos costumes, brincava um pouco com as personagens." Hoje em dia, acredita que "o humor está subjugado ao politicamente correto, não se pode dizer "sopeira" que pode ser ofensivo."

Relembra que a "maior parte dos livros (do seu tio) eram postos à venda e a seguir vinha a PIDE e retirava-os." Entre sorrisos, conta que "a maior parte dos livreiros e da malta da tabacaria guardava sempre alguns porque havia clientes habituais que iam buscar o livro debaixo do balcão." Para além disso, recorda: "o meu tio quando publicava um dos livros tinha o cuidado de sair de casa e ir dormir pra casa de um amigo. Apesar disso, foi preso 3 vezes e, portanto, o humor nessa altura era uma coisa mais perigosa, do que é hoje", afirma.

Esta censura imposta aparentemente foi eliminada. Contudo, fora a imposição dos limites individuais, o mercado atual do humor é alvo de uma outra repreensão, a censura profissional. Os humoristas que protagonizam o Jovem Conservador Da Direita e o comediante Rui Xará exemplificam esta dinâmica.

Em entrevista, o Jovem Conservador da Direita relatou dois dos episódios. O primeiro remetente à perda de um patrocínio de podcast. "Perdemo-lo à pala de um vídeo que fizemos porque a pessoa da direção da administração era do partido político que nós gozamos e estava tudo aparentemente encaminhado. Contudo, essa pessoa viu esse vídeo e deixamos de poder usufruir do patrocínio", esclareceu.

O segundo deveu-se ao próprio nome do projeto. "Houve uma autarquia que não nos contratou, não era por serem de direita, mas como o nome era Conservador De Direita podia deixar melindradas algumas pessoas e criar problemas", referiu.

Já, Rui Xará revelou um outro ponto de censura, os próprios meios promotores de espetáculos ou de conteúdos humorísticos. Para este, Portugal é um "país culturalmente difícil", uma vez que a maioria das Câmaras Municipais tende a apostar na cultura da gratuitidade. "As pessoas partem do princípio de que se forem ver o concerto da Carolina Deslandes ou de lá quem for, é de graça", salientou.

A verdade é que, em ambos os casos, os humoristas sentem "a liberdade de expressão ameaçada". Tendo em conta o humor enquanto arte, os humoristas questionam-se sobre os preconceitos associados à sua área comparativamente a outras formas de arte.

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